quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Psicológico x Escritor

Tema batido. Força do psicológico. Em uns, mais fraca, em outros, mais forte. Mas definitivamente onipresente. Tenho que confessar que quando era pequeno, perdi muitas batalhas para essa força interior que tentava dominar meu corpo definitivamente. A guerra era sempre cruel. Tratava-se de um grande potencial. Meu psicológico foi campeão mundial em 1989 e 1991. Ficou em terceiro lugar em 1993. E realmente não mereceu o primeiro lugar nesse ano.
Mas o título de 1991 ninguém discute. Afinal, tinha bronquite e mais de uma vez por mês, ia ao médico com falta de ar, achando que iria morrer - ou algo pior - e ao pisar na sala do doutor, melhorava instantaneamente. Instantaneamente. Nem a comissão julgadora do campeonato mundial de força do psicológico acreditava. Mas eu tinha muitas testemunhas para provar. Era batata. Acordava no meio da noite com falta de ar, preocupava a casa inteira, ia correndo para o médico, entrava na sala e pronto! Passou. Era só eu falar algo desse gênero que meus pais queriam morrer de vergonha. E o doutor não conseguia mais diagnosticar.
Claro que não foi sempre assim. Diria quarenta por cento das vezes. E também não era por querer atenção que acontecia. Nunca fui mimado. Meus pais jamais alimentariam qualquer atitude desse tipo. Por isso aprendi que minha bronquite era sempre desencadeada por um processo alérgico e era agravada pelo meu psicológico. Começava a reparar que minha respiração havia mudado e com isso, me desesperava, com medo do que ainda estava por vir.
Mas essa disfunção na infância foi fundamental para que eu conseguisse aumentar cada vez mais o controle sobre meu psicológico, até ele perder o mundial em 1993 e ser suprimido de vez até os dias de hoje. "De vez" é exagero. Ele ainda se mexe no caixão.
Hoje, por exemplo, estava preparando comida: macarrão do tipo canudinho na água, fritando carne moída e esquentando um desses molhos prontos, à bolognesa. Já tinha preparado metade do pote há um mês atrás e agora estava terminando com o restinho.
Tudo pronto, misturei tudo numa panela e já estaria pronto pra servir. No entanto, na hora de jogar o pote fora, vi que na boca do vidro tinha uma pequena comunidade de fungos, já que o molho havia ficado guardado por tanto tempo. Olhei pro macarrão, sem forças pra cozinhar tudo de novo, e tentei retirar o máximo do molho que pude. Substitui por outro. Mas era de se notar a presença do outro, contaminado.
Não liguei muito. Pensei no que o time de futebol acharia de mim se eu contasse que joguei a comida fora por causa de um funguinho na boca do pote que eu nem sabia se havia realmente encostado no molho. E comi.
Demorou cinco minutos pra eu começar a passar mal. Era uma dor de estômago, vontade de vomitar, que resolvi não comer o terceiro prato. Joguei fora os doze macarrões que haviam sobrado. E comecei a pensar no que fazer.
Enquanto passava mal, tive a idéia de ver há quanto tempo o molho estava completamente estragado - dado oficial fornecido pelo meu estômago que agora parecia estar dançando um tango argentino com o meu fígado, enquanto meu intestino fazia a "ola" que ia desde o grosso até o delgado.
Corri para o lixo e peguei o pote. Antes de encontrar a data de validade, olhei mais uma vez para o responsável pela festa que acontecia no meu abdôme e...
-Peraí! Olhando desse jeito, esse fungo parece mais o papelzinho de selagem com uma ervas do molho por cima...
Pois é. A festa acabou. O tango e a "ola" também pararam, para voltar para suas funções corpóreas naturais. A cara do meu médico de "você aqui de novo, menino?" voltou imediatamente à minha memória, corando um pouco meu rosto, enquanto jogava a lata de volta ao lixo.
Recaída de leve.
Acontece.
Afinal, é sempre bom rever um velho companheiro.

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