Não foi uma vez só que aconteceu de um gringo vir me dizer que acha estranho como os brasileiros se despedem. Principalmente no telefone. Exemplo:
-Então tá bom Dercy, bom falar com você!
-Você também, Matilde! A gente vai se falando! Tá legal?
-Tá bom!
-Então tá! Tchau!
-Tchau.
Tataratatá! Maior enrolação pra falar "Bom falar com você! Até mais! Tchau!". Sendo que isso ainda poderia ser bem mais enxugado. Mas pelo menos não ficaria nesse pingue-pongue, no qual cada quique da bolinha corresponde a um "tá!".
Na verdade, o ato de se despedir de alguém como um todo é bem particular. E é impressionante como adotamos, por alguns segundos (ou minutos/horas no caso das mulheres) uma postura diferente da normal, que por muitas vezes torna esse espaço de tempo extremamente embaraçoso.
Outro exemplo para ilustrar o que eu digo: quantas vezes já aconteceu de você já ter se despedido de tal pessoa - seja um recente conhecido, velho conhecido, amigo, parente, o que for - e de repente foi bloqueado de alguma maneira que resultou em ficar ali junto dessa pessoa por mais algum tempinho?
Do tipo de falar tchau, sair do apartamento da pessoa e o elevador estar parado no térreo por causa do pessoal da mudança. E ter que ficar ali no hall, com a pessoa não querendo fechar a porta e você não querendo incomodar - aquela troca de sorrisos amarelos. Você vai ter que entrar de novo e ir talvez sair pelos fundos, onde aquele bendito pessoal da mudança realmente deveria estar.
Do tipo de sair da entrevista de emprego, falar tchau, agradecer e na hora de passar o crachá de visitante pra ir embora... cadê o crachá? Em cima da mesa do entrevistador, no décimo andar, junto com o celular que você também esqueceu lá. Meia-volta e um X na categoria "desatento".
Do tipo de estar esperando sua mae te pegar no shopping (típico da faixa etária 12-17 anos), avistar o carro chegando, falar tchau para aquela sua nova paquera que você ainda tem vergonha de ficar olhando por mais de dez segundos, sair correndo na chuva, abrir a porta do carro e... entrar no carro de um cara de barba ouvindo John Lennon. Não era a sua mãe. O jeito é voltar, e esperar, molhado, por mais uns minutinhos. Pelo menos nesse caso, o mico pago é assunto para reabrir o papo já finalizado.
Enfim, as boas maneiras e a etiqueta botam muita pressão nesse assunto. Poucos são aqueles que agem com naturalidade na hora de falar tchau. E as "frases feitas" podem resultar em desastre, se não forem bem combinadas. Gaguejos, resposta errada, frases sem sentido - espero que você tenha uma até mais tchau hein.
Dizer tchau deveria ser feito com naturalidade e não como uma sequência ativada por um movimento de olhar para o relógio, levantar da cadeira devagar ou por um silêncio ao fim de uma conversa.
É questão de prática.
Oi
Há 8 anos
Nenhum comentário:
Postar um comentário